verbo morrer. (JONASCEST)

Bato a porta de casa com muita força, - se pudesse metia a casa abaixo apenas com um murro, tamanha que é a minha raiva – aconchego o meu pescoço com o cachecol, que infelizmente, me ofereces-te no meu décimo quinto aniversário, meto as mãos nos bolsos e avanço não sei para onde. Caminho sem direcção definida, e sem me preocupar com as pessoas que fixam o seu olhar em mim e na minha, miserável e nojenta imagem. Miserável por andar com umas calças sujas e uma camisola toda esburacada. E nojenta porque eu não sou normal. Sou apaixonado pelo meu irmão e isso é, de facto, nojento.
-Um autografo, Nick? – é demasiada gente a pedir a mesma coisa. Ignoro pedidos desses. Autógrafos agora, não! Contorno as pessoas que se metem á minha frente e continuo a divagar por caminhos incertos. Não me importa o que ficam elas a pensar, provavelmente são raparigas apaixonadas por mim que se matam por ter um insignificante autografo. Desde quando é que a minha assinatura é assim tão importante?
Não sabem de certeza o que é amar de verdade, desesperar por uma palavra simpática e que nos enche o coração. Não sabem de certeza a angustia que se sente quando queremos quebrar as regras e não podemos. Mas uma coisa que não sabem, é amar um irmão como se fosse a nossa própria vida. Odeio chamar o Joe, e arrepiar-me. Odeio ter vontade de entrar no quarto dele, durante a noite, e deitar-me ao lado dele. Odeio sonhar com ele. Odeio sentir que o meu coração bate por ele. Odeio olhar para os seus lábios. Odeio sentir que ele não me ama. Odeio-me!
Porque é que ele não é apenas um irmão? Porquê? Porque é que eu sou tão nojento? Por favor, matem-me para aliviar a minha dor. Para aliviar este sentimento nojento que me consome. Para acabar com todos os vestígios de amor de mim. Eu não quero amar! Matem-me! Eu não quero respirar. Matem-me! Não me toquem. Matem-me! Não falem comigo. Matem-me! Não me amem. Matem-me!
Joe, não me mates. Já me matas sem saberes. Quando não falas comigo, eu morro. Quando me viras costas, eu morro. Quando te ris, eu morro. Quanto cantas, eu morro. Quando dizes amar toda a gente, eu morro.
Tamanho é o sofrimento. Tamanho é o nojo. Tamanha é a solidão. Tamanha é a necessidade do verbo morrer.