Numa Quarta-Feira como todas as outras, eu estava na minha hora de almoço, e a mãe ligou-me, para mim, não para a mana, mas a mana estava mesmo ao meu lado, eu atendi, e ela perguntou-me se estava tudo bem comigo e com a mana, eu respondi que sim, pelo menos com a mana, porque como sempre eu estava a almoçar sozinha, um dia como todos os outros, em que eu passava os intervalos e as horas de almoço todas sozinha! A mãe pediu-me para passar o telemóvel à mana, eu não sei o que foi que ela lhe disse, mas a mana deixou-se ficar sentada no seu sítio! Deu-me o telemóvel e eu fui-me embora! Quando já tinham acabado as minhas aulas, eu fui lá para fora, com dois amigos, estive lá à espera que alguém me viesse buscar! Passados alguns minutos, o meu telemóvel toca, era a Fatinha… Eu atendi, e ela perguntou-me onde é que eu estava, eu respondi que estava mesmo à frente do portão da escola, e ela começa a ter uma conversa muito estranha, do tipo: “Sabes, o teu avô estava muito doente!” Eu afirmei, sim, porque eu sabia que tu andavas um pouco doente, mas eu percebi logo, assim que ela desligou sem dizer mais nada, e eu vi um carro funerário passar mesmo à minha frente, fiquei a olhar com um olhar petrificado, não consegui pronunciar uma única palavra, os meus colegas começaram a perguntar-me o que se passava, mas eu respondi logo que não se passava nada, afinal não podia ser, era apenas uma coincidência! De repente vejo a Fatinha aparecer ao pé de mim, ela vinha lá de trás, e aí sim, ela contou-me, disse-me que tinhas morrido, eu fiz-me de forte, e não chorei, não podia chorar à frente dela, ela deve de ter ido dizer à mãe que eu já tinha ido para o carro, e depois voltou com a avó dos Candeeiros, eu não pronunciei uma única palavra durante o caminho de lá até casa, quando chegámos a casa, as duas perguntaram-me se eu queria ficar lá em baixo a brincar com os primos, eu disse que não, porque tinha que ir fazer os trabalho de casa, cheguei a casa, e sentei-me na secretária, pus os livros em cima da mesa, e liguei o computador, nos livros não lhes voltei a tocar, não consegui, o meu coração estava apertado, eu não conseguia pensar em, nada, apenas em ti, o meu chão já não existia, eu não tinha razões para viver, a minha alma tinha fugido, para muito longe, as lágrimas teimavam em querer cair, mas eu não deixava, tinha que ser foste, eu não podia deixar que isso acontecesse… Passadas algumas horas apareceu a mana, com a Catarina e com a Inês, já era de noite, e eram perto de 22:00, eu ainda não tinha jantado, mas eu não tinha fome! Ela apareceu, e chamou-me para jantar, eu levantei-me, sorri, e fui para baixo, jantei, pouco mas jantei, voltei para casa, tomei um banho, para ver se todos aqueles pensamentos se iam embora, mas não tive muita sorte, subi as escadas, com a mochila às costas, e fui arrumar tudo para o dia seguinte, por muito que não me apetecesse ir à escola, escolhi a roupa que iria vestir, e fui deitar-me, já era tarde, mas mesmo assim eu não consegui dormir, chorei muito, mas mesmo muito, mas depois, os olhos começaram a pesar-me, e começaram a fechar-se, até que eu não aguentei mais, e adormeci… Na manhã seguinte, acordei sobressaltada, estava a bater à porta, mas quem seria àquela hora?! Levantei-me, chamei a mana, pois já estávamos um pouco atrasadas, e fui abrir a porta, era a Fatinha, vinha buscar a Simone para nós podermos ir para a escola! Vesti-me, peguei na mochila e fui para baixo, não pronunciei uma única palavra até chegar à escola, eu não ia ter os primeiros noventa minutos da manhã! Mas eu não conseguia ficar em casa! Quando cheguei à escola, não havia colegas meus, e mesmo que houvesse eu não iria ter com eles, nunca gostei da minha turma, e continuo a não gostar, e tenho uma pequena sensação de que eles também não gostam de mim… Subi as escadas até à sala 86, e sentei-me lá! Depois comecei a fartar-me de estar ali, e também estava a começar a querer chorar, levantei-me, e fui até às escadas encostada à parede, eu estava sem forças, e sem as minhas forças caí, não aguentava estar em pé, o Henrique da minha turma, veio até mim, e disse-me que sabia o que se passava, disse que eu tinha que ter força… Voltei a levantar-me, fui à casa de banho, lavei a cara, e voltei para ao pé da sala, passado pouco tempo tocou, os meus colegas começaram a aproximar-se da sala, e vieram falar comigo sobre ti, eu não aguentei, levantei-me e afastei-me, sentei-me encostada a uma parece, e a D. Elisabete veio até mim, eu contei-lhe e ela perguntou-me se eu queria ir ao psicólogo, eu disse que não, a professora de Português passou por mim, era a aula que eu ia ter nesse momento, eu levantei-me e fui até ao pé da sala, pegando na mochila, e encostando-me de novo à parede, enquanto a professora tinha ficado para trás a falar com a D. Elisabete! Como estava sem forças, mantive-me encostada à parede! O meu dia foi passado assim, ao pé da sala, à espera que as aulas começassem, não almocei, não lanchei, não comi nada durante todo o dia! Fui para casa, jantei, e fui deitar-me!
Agora sinto saudades de quando nós riamos às gargalhadas, de quando me fazias cócegas, de quando me apertavas, dos teus abraços, do teu sorriso, dos teus olhos claros, de quando íamos passear pela Amadora, de quando nos levavas a todos os parques que podiam existir na Amadora, de quando nos contavas histórias da tua vida, e rias, como se de uma piada privada se tratasse, eu ria só de te ver rir! Tenho saudades de quando aparecias de surpresa cá em casa, de quando me compravas gelados, de quando nos levavas ao golfe, ou seja, tenho saudades de tudo em ti!
E agora ainda tenho mais saudades, porque estou completamente sem amigos! És um dos meus Anjos da Guarda, sei que estás aí em cima a proteger-me, e sei que nunca deixarás que nada de mal me aconteça!
Apesar de estares aí em cima, eu nunca deixo passar um dia em que não pense em ti, e tu estarás sempre no meu coração, estás longe, mas ao mesmo tempo aqui ao meu lado!
E hoje te deixo aqui esta carta, para de dizer o quanto te amo, e para te dizer que nunca te irei deixar partir de perto de mim! Nunca te esquecerei, nunca mesmo!
Quero também pedir-te desculpa por não me ter despedido de ti, mas eu não consegui, era uma emoção muito forte ver todas aquelas pessoas a chorarem por ti, e a deixarem-te partir, eu não fui, porque eu não quero que tu vás, nunca!
Prometo-te desde já que nunca te vou deixar partir de perto de mim! Uma promessa para a Vida!
Se eu um dia tiver um filho vou dar-lhe o teu nome, “António”!
És um dos meus dois Melhores Amigos!
Amo-te muito Avô!
Da tua neta do meio:
Patrícia Inácio!
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Querido avô dos Candeeiros:
Quero que saibas que te amo, quero que saibas que nunca te esquecerei, e que estarás sempre aqui comigo, eu nunca te irei deixar partir, prometo! Esta não é mais uma daquelas promessas sem significado, esta é uma promessa para a Vida! E eu vou cumpri-la, nem que para isso tenha que perder todas as forças que eu tenho!
Guardo comigo as recordações de muitos dos momentos que eu mais gostei! Como por exemplo:
Quando nós (os primos) estávamos sempre a fazer barulho lá em tua casa, e de repente tu mandavas-nos calar, porque querias ouvir as notícias, e a televisão estava desligada! Quando tu nos contavas piadas, e nós riamos às gargalhadas, quando nos levavas à Charneca, e nos davas pêssegos que tu próprio tinhas plantado, e quando nos levavas na tua carrinha azul até lá e nós íamos ao saltos lá a trás, e até quando os nossos pais te vestiram de pai Natal na noite de Natal, e te obrigaram a levar um saco cheio de presentes às costas, e nós corremos até ti muito felizes a pedir as prendas! Sim, tudo isto são memórias fantásticas! Mas todas elas são boas memórias, a última vez que me lembro de te ver, foi quando tu estavas muito doente, por causa do Cancro no Fígado, eu fui com a Simone ao teu quarto, e tu estavas deitado, muito fraco, e, como de todas a vezes, chamaste “Quinica” à Simone, deste-me a mão e apertaste com as forças que tinhas, mas depois tivemos que nos ir embora, porque tu tinhas que descansar, eu dei-te um beijinho, e saí, que eu me lembre, foi a última vez que te vi!
Tenho muita pena que isto te tenha acontecido! Eu não queria mesmo perder-te, eu não me despedi de ti, porque eu não tinha nada que me despedir, tu para mim, não morreste, continuas aqui comigo, sendo tu, mais um dos meus Anjos da Guarda!
Se eu algum dia tiver um filho, vou dar-lhe o nome “António”, porque era o teu nome! Ainda bem que tu e o outro avô tinham o mesmo nome…
És um dos meus dois Melhores Amigos!
Foi muito mau como eu fiquei a saber que tu tinhas morrido!
Estava eu sentada no sofá, a ver televisão, era mais um feriado que se estava a tornar uma seca, a mãe estava a falar ao telemóvel, e de repente diz que não pode ir a um sítio qualquer porque o sogro morreu, e foi assim que eu fiquei a saber, por um telefonema que a mãe fez para um cliente! Depois chegou-se ao pé de mim, disse-me, e reconfortou-me e eu continuei a ver televisão, fiz-me de forte para não chorar!
Amo-te muito, mas mesmo muito, avô! Nunca te esquecerei!
Com muito amor, de uma das tuas várias netas do meio:
Patrícia Inácio
- Spoiler:
Estas cartas foram feitas por mim, para os meus avós que já faleceram... A primeira é para o meu avô de Lisboa, já faleceu há um ano, e a segunda para o dos Candeeiros, que faleceu há dois anos...
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